Município de Nisa - Caminho de Santiago Município de Nisa https://cm-nisa.pt/index.php/caminho-de-santiago/307-historia 2024-12-22T03:54:47+00:00 Município de Nisa geral@cm-nisa.pt Joomla! - Open Source Content Management História 2019-02-07T11:06:56+00:00 2019-02-07T11:06:56+00:00 https://cm-nisa.pt/index.php/caminho-de-santiago/historia Hugo Mendonça hjmendonca@gmail.com <p><img src="https://cm-nisa.pt/images/caminho_santiago/historia.jpg" alt="historia" class="border_img1" title="Hist&oacute;ria" /></p> <p>&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Das v&aacute;rias refer&ecirc;ncias a Santiago que nos aparecem no concelho de Nisa, assume particular relev&acirc;ncia a que nos &eacute; dada a conhecer por Humberto Baquero Moreno no seu artigo &ldquo;Vias Portuguesas de Peregrina&ccedil;&atilde;o a Santiago de Compostela na Idade M&eacute;dia&rdquo;, aludindo a um documento do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Chancelaria de D. Afonso V, livro 15, folha 45 v.), que nos relata um epis&oacute;dio ocorrido, entre Castelo de Vide e Nisa, envolvendo 2 peregrinos alem&atilde;es que se dirigiam a Santiago de Compostela, Pedro e Jacomina que se queixaram a &Aacute;lvaro Diaz, juiz da vila de Nisa, de que no caminho, quando seguiam na companhia de um irm&atilde;o de Pedro, haviam sido assaltados por 3 vaqueiros que &laquo;tomaram a dieta molher e per for&ccedil;a dormjram com ella&raquo;. Entre os acusados da malfeitoria figurava o vaqueiro Gon&ccedil;alo Borrinho, natural de Castelo de Vide, o qual havia sido preso em 20 de Mar&ccedil;o de 1455, sobre quem impendia ainda a queixa de que agredira violentamente o peregrino alem&atilde;o. A seu respeito e em sua defesa Gon&ccedil;alo Borrinho invocava que os queixosos &laquo;diserom ao dito juiz que elles deram a dieta querella com meneneorea do mall que lhe fora feicto o culparam em ella pella quall razom era preso&raquo;. Por um instrumento elaborado em 22 de Mar&ccedil;o desse ano, pelo tabeli&atilde;o de Nisa Jo&atilde;o Fadundes &laquo;sse mostra entre as outras cousas que os dictos Pedro e Jacomina ssua molher diserom que elle nom era daquelles que lhe o dicto mall fezeram&raquo; e &laquo;que o nam deziom com medo nem por peita sobmente por desencarregar suas almas e hiam em rromaria p&ecirc;ra Santiago de Galiza&raquo;. Apesar das declara&ccedil;&otilde;es abonat&oacute;rias dos peregrinos alem&atilde;es, Gon&ccedil;alo Borrinho permaneceu preso. Em virtude de recear uma deten&ccedil;&atilde;o prolongada e por ser pobre e &oacute;rf&atilde;o decidiu fugir da cadeia e andava &laquo;amoorado&raquo; com temor da justi&ccedil;a r&eacute;gia. D. Afonso V por instrumento de&nbsp;13 de Dezembro do ano em curso concedeu-lhe o seu perd&atilde;o, com a condi&ccedil;&atilde;o de proceder &agrave; entrega de mil reais para o seu capel&atilde;o Jo&atilde;o de &Eacute;vora.</p> <p style="text-align: justify;">O mesmo artigo refere tamb&eacute;m que o interior do pa&iacute;s encontrava-se ligado por uma importante estrada, paralela &agrave; fronteira, e que se estendia desde Viseu at&eacute; &Eacute;vora, ligando no seu percurso a Covilh&atilde;, Castelo Branco, Nisa, Alpalh&atilde;o, Crato, Alter do Ch&atilde;o, Fronteira, Estremoz e &Eacute;voramonte. A localidade de Castelo de Vide, que ligava por estrada com Nisa, onde existiam tr&ecirc;s estalagens, era um ponto de chegada de mercadores e peregrinos que utilizavam a grande via que os encaminhava para Viseu e Lamego, oriundos muitas vezes da Estremadura castelhana e doutras partes mais long&iacute;nquas. O sul do pa&iacute;s, ou mais propriamente os portos algarvios, dispunham n&atilde;o s&oacute; de acesso mar&iacute;timo com o resto do pa&iacute;s, como ali&aacute;s possu&iacute;am tr&ecirc;s grandes vias que os punham em contacto com o Alentejo. Os raros peregrinos que desde o Algarve demandavam Santiago de Compostela optavam normalmente pela via mar&iacute;tima (&hellip;) mas atendendo a que o esp&iacute;rito e a predisposi&ccedil;&atilde;o do peregrino fazia andar a p&eacute;, da&iacute; que optaria seguir pela via terrestre. Junto ao Guadiana dispunha da estrada que ligava Beja a Tavira dispondo na vila algarvia de tr&ecirc;s estalagens.</p> <p style="text-align: justify;">Outra refer&ecirc;ncia ao Apostolo surge-nos na obra &ldquo;Amieira do Antigo Priorado do Crato&rdquo;, de Tude Martins de Sousa, uma esmola que ter&aacute; sido dada a 2 romeiros de Santiago, alus&atilde;o inserta no livro de despesas da Santa Casa da Miseric&oacute;rdia de Amieira do Tejo. Cr&ecirc;-se que os romeiros que dever&atilde;o ter passado o rio na Barca da Amieira. De referir tamb&eacute;m que nesta freguesia existe uma Rua de Santiago e que o orago da igreja Matriz &eacute; Santiago Maior, do qual existe uma imagem em pedra.</p> <p style="text-align: justify;">Em Alpalh&atilde;o temos o Largo de S.Tiago, onde se localiza a igreja da Miseric&oacute;rdia ou do Espirito Santo que possui uma imagem do Santiago Peregrino. Diz-nos Augusto Soares de Pinho Leal, na mem&oacute;ria transcrita do &ldquo;Portugal Antigo e Moderno&rdquo; de 1873, que &ldquo;tem a dita Villa Miseric&oacute;rdia, agregada &agrave; igreja do Espirito Santo, com casa para recolhimento dos pobres e passageiros, aonde se curam alguns doentes, com Hospitaleiros que nele assiste.&rdquo;, que supomos ser um edif&iacute;cio bastante antigo (1601), que se situa na rua da referida igreja, que conflui no dito Largo de S. Tiago.</p> <p style="text-align: justify;">Em Nisa temos o Canto e a Rua de S. Tiago, pela proximidade com a Porta de S. Tiago, uma das 5 portas medievais da Fortaleza da vila. Da igreja de S. Tiago, restam-nos as suas ruinas, diz-nos Jos&eacute; Diniz da Gra&ccedil;a Motta e Moura na &ldquo;Mem&oacute;ria Hist&oacute;rica da Not&aacute;vel Vila de Niza&rdquo;, (1855), que &ldquo;era a segunda par&oacute;quia da antiga vila&rdquo;. No largo que lhe serviu de adro encontra-se ainda um cruzeiro com data gravada de 1638. A imagem do intr&eacute;pido Padreiro de Espanha recolheu &agrave; ermida da Senhora dos Prazeres, de onde desapareceu h&aacute; muito, (Monografia de Nisa, de Jos&eacute; Francisco Figueiredo, 1956).<br /> <br />Se atentarmos o facto da credencial do peregrino fazer refer&ecirc;ncia, entre os v&aacute;rios caminhos portugueses, ao itiner&aacute;rio que passa por Nisa, &eacute; uma prova inequ&iacute;voca que a passagem de peregrinos por esta a rota j&aacute; se realiza h&aacute; bastante tempo.<br /> <br />Como nos refere o Prof. Carlos Dinis Tom&aacute;s Cebola em &ldquo;Nisa: A Outra Hist&oacute;ria&rdquo;, a Marja Fanzira, Via da Antiga Lusit&acirc;nia, possivelmente Pr&eacute;-hist&oacute;rica que, segundo M&aacute;rio S&aacute;a, em &ldquo;As Grandes Vias da Lusit&acirc;nia, Livro V, nota 2&rdquo;, &ldquo;irrompia no vau tagano de Escaroupim, Valada, desenhava-se como um longo S, que nenhum rio ou ribeiro interceptava, vinha pelos pontos mais altos da bacia do Sor&hellip;passava entre Nisa e Alpalh&atilde;o, em direc&ccedil;&atilde;o a Castelo de Vide, Aramenha e seguia para Espanha at&eacute; M&eacute;rida&hellip;&rdquo;, dela restam ainda alguns pequenos tro&ccedil;os (vest&iacute;gios). Mas entre n&oacute;s ainda &eacute; conhecida por Vereda da Sardinheira. Ter&aacute; sido provavelmente no tro&ccedil;o desta antiga via, entre Castelo de Vide e Nisa, que ter&aacute; ocorrido o epis&oacute;dio com os peregrinos alem&atilde;es, mencionado por Humberto Baquero Moreno.&nbsp;</p> <p><img src="https://cm-nisa.pt/images/caminho_santiago/historia.jpg" alt="historia" class="border_img1" title="Hist&oacute;ria" /></p> <p>&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Das v&aacute;rias refer&ecirc;ncias a Santiago que nos aparecem no concelho de Nisa, assume particular relev&acirc;ncia a que nos &eacute; dada a conhecer por Humberto Baquero Moreno no seu artigo &ldquo;Vias Portuguesas de Peregrina&ccedil;&atilde;o a Santiago de Compostela na Idade M&eacute;dia&rdquo;, aludindo a um documento do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Chancelaria de D. Afonso V, livro 15, folha 45 v.), que nos relata um epis&oacute;dio ocorrido, entre Castelo de Vide e Nisa, envolvendo 2 peregrinos alem&atilde;es que se dirigiam a Santiago de Compostela, Pedro e Jacomina que se queixaram a &Aacute;lvaro Diaz, juiz da vila de Nisa, de que no caminho, quando seguiam na companhia de um irm&atilde;o de Pedro, haviam sido assaltados por 3 vaqueiros que &laquo;tomaram a dieta molher e per for&ccedil;a dormjram com ella&raquo;. Entre os acusados da malfeitoria figurava o vaqueiro Gon&ccedil;alo Borrinho, natural de Castelo de Vide, o qual havia sido preso em 20 de Mar&ccedil;o de 1455, sobre quem impendia ainda a queixa de que agredira violentamente o peregrino alem&atilde;o. A seu respeito e em sua defesa Gon&ccedil;alo Borrinho invocava que os queixosos &laquo;diserom ao dito juiz que elles deram a dieta querella com meneneorea do mall que lhe fora feicto o culparam em ella pella quall razom era preso&raquo;. Por um instrumento elaborado em 22 de Mar&ccedil;o desse ano, pelo tabeli&atilde;o de Nisa Jo&atilde;o Fadundes &laquo;sse mostra entre as outras cousas que os dictos Pedro e Jacomina ssua molher diserom que elle nom era daquelles que lhe o dicto mall fezeram&raquo; e &laquo;que o nam deziom com medo nem por peita sobmente por desencarregar suas almas e hiam em rromaria p&ecirc;ra Santiago de Galiza&raquo;. Apesar das declara&ccedil;&otilde;es abonat&oacute;rias dos peregrinos alem&atilde;es, Gon&ccedil;alo Borrinho permaneceu preso. Em virtude de recear uma deten&ccedil;&atilde;o prolongada e por ser pobre e &oacute;rf&atilde;o decidiu fugir da cadeia e andava &laquo;amoorado&raquo; com temor da justi&ccedil;a r&eacute;gia. D. Afonso V por instrumento de&nbsp;13 de Dezembro do ano em curso concedeu-lhe o seu perd&atilde;o, com a condi&ccedil;&atilde;o de proceder &agrave; entrega de mil reais para o seu capel&atilde;o Jo&atilde;o de &Eacute;vora.</p> <p style="text-align: justify;">O mesmo artigo refere tamb&eacute;m que o interior do pa&iacute;s encontrava-se ligado por uma importante estrada, paralela &agrave; fronteira, e que se estendia desde Viseu at&eacute; &Eacute;vora, ligando no seu percurso a Covilh&atilde;, Castelo Branco, Nisa, Alpalh&atilde;o, Crato, Alter do Ch&atilde;o, Fronteira, Estremoz e &Eacute;voramonte. A localidade de Castelo de Vide, que ligava por estrada com Nisa, onde existiam tr&ecirc;s estalagens, era um ponto de chegada de mercadores e peregrinos que utilizavam a grande via que os encaminhava para Viseu e Lamego, oriundos muitas vezes da Estremadura castelhana e doutras partes mais long&iacute;nquas. O sul do pa&iacute;s, ou mais propriamente os portos algarvios, dispunham n&atilde;o s&oacute; de acesso mar&iacute;timo com o resto do pa&iacute;s, como ali&aacute;s possu&iacute;am tr&ecirc;s grandes vias que os punham em contacto com o Alentejo. Os raros peregrinos que desde o Algarve demandavam Santiago de Compostela optavam normalmente pela via mar&iacute;tima (&hellip;) mas atendendo a que o esp&iacute;rito e a predisposi&ccedil;&atilde;o do peregrino fazia andar a p&eacute;, da&iacute; que optaria seguir pela via terrestre. Junto ao Guadiana dispunha da estrada que ligava Beja a Tavira dispondo na vila algarvia de tr&ecirc;s estalagens.</p> <p style="text-align: justify;">Outra refer&ecirc;ncia ao Apostolo surge-nos na obra &ldquo;Amieira do Antigo Priorado do Crato&rdquo;, de Tude Martins de Sousa, uma esmola que ter&aacute; sido dada a 2 romeiros de Santiago, alus&atilde;o inserta no livro de despesas da Santa Casa da Miseric&oacute;rdia de Amieira do Tejo. Cr&ecirc;-se que os romeiros que dever&atilde;o ter passado o rio na Barca da Amieira. De referir tamb&eacute;m que nesta freguesia existe uma Rua de Santiago e que o orago da igreja Matriz &eacute; Santiago Maior, do qual existe uma imagem em pedra.</p> <p style="text-align: justify;">Em Alpalh&atilde;o temos o Largo de S.Tiago, onde se localiza a igreja da Miseric&oacute;rdia ou do Espirito Santo que possui uma imagem do Santiago Peregrino. Diz-nos Augusto Soares de Pinho Leal, na mem&oacute;ria transcrita do &ldquo;Portugal Antigo e Moderno&rdquo; de 1873, que &ldquo;tem a dita Villa Miseric&oacute;rdia, agregada &agrave; igreja do Espirito Santo, com casa para recolhimento dos pobres e passageiros, aonde se curam alguns doentes, com Hospitaleiros que nele assiste.&rdquo;, que supomos ser um edif&iacute;cio bastante antigo (1601), que se situa na rua da referida igreja, que conflui no dito Largo de S. Tiago.</p> <p style="text-align: justify;">Em Nisa temos o Canto e a Rua de S. Tiago, pela proximidade com a Porta de S. Tiago, uma das 5 portas medievais da Fortaleza da vila. Da igreja de S. Tiago, restam-nos as suas ruinas, diz-nos Jos&eacute; Diniz da Gra&ccedil;a Motta e Moura na &ldquo;Mem&oacute;ria Hist&oacute;rica da Not&aacute;vel Vila de Niza&rdquo;, (1855), que &ldquo;era a segunda par&oacute;quia da antiga vila&rdquo;. No largo que lhe serviu de adro encontra-se ainda um cruzeiro com data gravada de 1638. A imagem do intr&eacute;pido Padreiro de Espanha recolheu &agrave; ermida da Senhora dos Prazeres, de onde desapareceu h&aacute; muito, (Monografia de Nisa, de Jos&eacute; Francisco Figueiredo, 1956).<br /> <br />Se atentarmos o facto da credencial do peregrino fazer refer&ecirc;ncia, entre os v&aacute;rios caminhos portugueses, ao itiner&aacute;rio que passa por Nisa, &eacute; uma prova inequ&iacute;voca que a passagem de peregrinos por esta a rota j&aacute; se realiza h&aacute; bastante tempo.<br /> <br />Como nos refere o Prof. Carlos Dinis Tom&aacute;s Cebola em &ldquo;Nisa: A Outra Hist&oacute;ria&rdquo;, a Marja Fanzira, Via da Antiga Lusit&acirc;nia, possivelmente Pr&eacute;-hist&oacute;rica que, segundo M&aacute;rio S&aacute;a, em &ldquo;As Grandes Vias da Lusit&acirc;nia, Livro V, nota 2&rdquo;, &ldquo;irrompia no vau tagano de Escaroupim, Valada, desenhava-se como um longo S, que nenhum rio ou ribeiro interceptava, vinha pelos pontos mais altos da bacia do Sor&hellip;passava entre Nisa e Alpalh&atilde;o, em direc&ccedil;&atilde;o a Castelo de Vide, Aramenha e seguia para Espanha at&eacute; M&eacute;rida&hellip;&rdquo;, dela restam ainda alguns pequenos tro&ccedil;os (vest&iacute;gios). Mas entre n&oacute;s ainda &eacute; conhecida por Vereda da Sardinheira. Ter&aacute; sido provavelmente no tro&ccedil;o desta antiga via, entre Castelo de Vide e Nisa, que ter&aacute; ocorrido o epis&oacute;dio com os peregrinos alem&atilde;es, mencionado por Humberto Baquero Moreno.&nbsp;</p>